O livro “Minha Razão de viver” é
conta a história de Samuel Wainer. Foi elaborado a partir da escuta de fitas de
áudio gravadas pelo jornalista, e, minuciosamente transcritas por Augusto Nunes,
em 1980. Nas fitas que originaram o livro, Wainer conta com detalhes sua
experiência enquanto dono do Jornal “Última Hora”, veículo fundado com apoio do
ex-presidente Getúlio Vargas, a quem Wainer foi fiel até seu último dia.
O jornal de Wainer era declaradamente
favorável ao governo de Vargas. Populista, o veículo inovou ao levar para os
leitores a lealdade de seu dono ao presidente da república. Wainer foi
apelidado pelo presidente como “Profeta”. Na narrativa, ele defende suas
atitudes, julga inimigos e relembra de momentos em que considerou sua presença
no cenário político como essencial.
O apoio de Vargas ao jornal que o
apoiava foi essencial para que ele ganhasse prestígio. Vargas não possuía apoio
dos donos dos jornais, em especial dos Diários Associados, e considerava
importante ter como aliado um veículo que prestigiasse seu governo.
A partir da obra é possível
vislumbrar que a realidade vivida por Wainer não é muito diferente da
enfrentada pelos jornais e jornalistas dos dias atuais. Veículos nascem e
crescem fundados em ideologias. Assim como os governos. Estes atores são
interdependentes. Ora há apoio de parte, ora outra parte é apoiada. Todas essas
ações são parte da teia de interesses da política e das empresas.
Além da relação política que Wainer
estabelece com Vargas, dois fatos, em especial, chamam atenção na leitura da
obra: o primeiro, que demonstra a relação entre Samuel Wainer e seu pai, e o
segundo, relacionado à venda do Jornal Última Hora, razão de viver de
personagem principal.
Ao encontrar com seu pai na rua,
Wainer o convida para um café. Vendo o estado em que seu pai se encontrava,
Wainer, compadecido, olha para seus pés e percebe que os sapatos do velho e
orgulhoso pai já estavam gastos, furados, inutilizáveis. Wainer, carinhosamente
tira seus sapatos e lhes entrega ao pai. A descrição desta cena relata o zelo
do filho para com o pai já no final da vida. Wainer calça os sapatos do pai e,
após a despedida, entra em uma sapataria e compra um novo par de sapatos.
Já sobre a venda do Jornal, Wainer
narra com angústia a decisão de vender o Última Hora. Sem ter mais como manter
a empresa, o jornalista negocia a venda do jornal. Telefonemas para várias
pessoas, ofertas recebidas. Wainer decide vender o Jornal por um preço que
considerou justo. Para sua surpresa, o ofertante decidiu desfazer no negócio e
abaixar a oferta. Wainer fica sem saber
o que fazer. Seu projeto de vida, sua empresa, estava sendo negociada a baixos
custos.
Em seu depoimento Wainer também
destaca sua inimizade com Carlos Lacerda e Assis Chateaubriand, ambos
contrários ao governo de Getúlio. Foi Lacerda o responsável por um processo que
o jornalista enfrentou, acusado de não ser brasileiro. A intenção de Lacerda
era impugnar Wainer, pois, não sendo brasileiro, não poderia ser dono de um
jornal.
Desigualdade social, momentos de
fartura, crise, sofrimento e euforia.
Todos esses elementos estão presentes na obra que conta a história do
jornalista Samuel Wainer.
Boa, querido David.
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