sábado, 18 de junho de 2016

JORNALISMO: a nobre razão de viver de um bessarábio


Por: Bruno Costa

O livro trata-se das memórias do jornalista Samuel Wainer. Um livro inteiro escrito em primeira pessoa e que trás relatos dos bastidores das grandes notícias que envolvem todo um contexto histórico brasileiro. Wainer mostrou ao mundo a que veio por meio de seu interesse e faro jornalístico e disponibilizou os pequenos detalhes dessa trajetória nesse livro. 

 A história não é dada de forma cronológica, o autor começa o relato contando um pouco de sua experiência convivendo com Getúlio e fazendo matérias jornalísticas que favorecessem “o presidente”. Getúlio no primeiro capítulo é mostrado como o destaque da obra, e ao decorrer dela fica evidenciado que ele realmente é. O livro em muitos momentos poderia ser chamado de memória de Getúlio, ou algo bem próximo disso. 

O companheirismo entre Wainer e Getúlio perdurou após a “última hora”, ou seja, até mesmo depois de enterrado o corpo do ex-ditador. A história de cumplicidade entre ambos começou assim:

Sobrevoávamos o pampa há cinco dias num Cessna bimotor. Eu fretara o avião em Porto Alegre, para fazer uma reportagem sobre a cultura de trigo no Rio Grande do Sul que me fora encomendado por Assis Chateaubriand, o dono dos Diários Associados. Além do piloto Nelson, ex-oficial da FAB, que mais tarde serio o piloto particular do presidente João Goulart, viajaram comigo dois outros gaúchos, Tadeu Onar e Laudo Porto. Estávamos em fevereiro de 1949, um sábado de carnaval, e a caminho de Porto Alegre, quando tive a atenção despertada para a conversa entre Nelson e Tadeu. Falavam de Getúlio Vargas. (WAINER, 1988, p. 19)
Wainer chegou à fazenda onde Getúlio a muito se escondia, por meio da curiosidade e interesse por furo de reportagem. Getúlio em uma atitude mais que estranha recebeu Wainer e o fez escrever sobre ele, mais precisamente sobre o seu retorno ao poder como o mandatário soberano nacional. Foi por meio dessa visita que a história contata no livro se deslanchou. 

Foto: Reprodução da Internet
 “O profeta e o presidente”, esses termos formaram a representatividade do eixo central do escrito. De um lado Wainer, cansado do jornalismo daquela época, onde os profissionais eram desvalorizados e se viam obrigados a trabalhar por horas a fio e sem salários dignos. Do outro lado estava ele, um ex-ditador que almejava arrebatar massas. Ambos perceberam no outro a oportunidade de alcançar seus objetivos.

O fenômeno brasileiro que se tornou o jornal “Última hora” foi pensado primeiro por Getúlio – como uma forma de interesse, mas na prática precisava de mãos firmes e que transmitissem confiança a quem de fato iria financiar aquele sonho. Assim, e com muitos recursos de terceiros, inclusive de bancos públicos é que Wainer tornou-se dono do jornal mais marcante que já ocupou as bancas do Brasil.

Em uma comparação com os dias atuais, podemos destacar as questões políticas que ocorrem por detrás dos jornais. O interesse dos governantes em ter o poder sobre a imprensa para exercer um jornalismo sujo e imparcial diante dos fatos apresentados à população e do outro lado o jornalismo, sempre com a necessidade de ter essa ligação para tirar o próprio sustento. 

Um fator que em muito se assemelha aos dias atuais e que também pode ser encontrado no livro é a questão do “mensalão” que Wainer foi submetido. Na época essa nomenclatura nem era utilizada, mas na prática foi o que ocorreu. O jornalista foi acusado de se beneficiar das jogas políticas de Getúlio para conseguir recursos. 

Em sua trajetória Wainer teve inúmeros desafios, tanto pessoais como profissionais, desde a Bessárabia até as terras de Cabral ele colecionou histórias e personagens. A politica fez parte de toda a sua história de vida, da infância no bairro do Bom Retiro em São Paulo, de onde fora considerado filho legítimo, ao Catete no Rio de Janeiro, antiga sede do governo brasileiro. Entre inimigos ele pôde enfrentar os mais terríveis, Chatô e Carlos Lacerda é só mais um. Mas entre as vitórias podemos destacar que o fazer jornalismo é o maior entre eles e com isso junta-se as conquistas que ele proporcionou aos seus. O livro é indicado para amantes da história nacional, estudantes e a todos que gostam de uma boa leitura. 




WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro, Ed. Record. 1998.

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