segunda-feira, 20 de junho de 2016

Um olhar sobre o filme “Confidencial”: do livro as telas do cinema, da realidade à ficção.

Por Warley Carvalho

Imagem da internet


Jornalistas são conhecidos por sua imensa curiosidade pelas coisas, e muitos são aqueles que se beneficiam quando algo do cotidiano ganha destaque nas páginas dos jornais. Mas não é todo assunto que ganhar esse pódio. Transformar um fato em notícia depende de vários fatores, entre eles, o inusitado e o trato que o escritor da ao assunto na hora de redigir a matéria.

Foi um fato assim, simples, que deu origem a obra literária, “À Sangue Frio” (1966), do escritor Truman Capote, considerado um dos maiores romances do século XX e precursor do estilo que viria a ser conhecido como livro-reportagem.

 O livro relata a história do brutal assassinato de uma família na cidade de Holcomb, localizada no interior do estado do Kansas, nos Estados Unidos da América, da ideia inicial do crime até a execução dos assassinos. Capote dedicou seis anos de sua vida para criação da obra, empregando técnicas de reportagem, dados históricos e técnicas de narrativas de ficção.

O livro foi adaptado para o cinema e deu origem a dois filmes: “Capote” (Bennett Miller, 2005) e “Confidencial” (Douglas McGrath, 2006). Ambos contam a mesma história, entretanto com propostas diferentes.

O filme “Confidencial” (2006), nosso foco aqui, traz uma abordagem de mergulho nas emoções de cada personagem. Tudo começa com a curiosidade de Truman Capote sobre a nota curta, no New York Times, sobre o assassinato de uma família que havia chocada toda uma cidade do interior.



O inicio do filme discorre lentamente, é necessário ter folego para os trinta minutos iniciais. Mas aguente firme, o restante das uma hora e vinte oito minutos da trama promete (o filme tem uma hora e cinquenta e oito minutos de duração).

O filme busca mostrar a graduação e a crescente intensidade, tanto da história quanto do envolvimento dos personagens. De forma a levar o espectador do aparente descaso com o cotidiano ao entusiasmo com o suspense regado à romance. Seja pela vida de Capote em festas e ao frequentar o “rai sossaith”, quanto pela rotina pacata dos moradores do interior.

A trama prende o espectador e quando já se está prestes a desistir do filme a surpresa de adentrar a cena do crime e a mente dos assassinos é o ponto certo, como convite e chave, para guiar a atenção nas investigações até o fim.

O filme gira em torno do personagem excêntrico de Truman Capote (interpretado por Toby Jones). Esse pequeno gigante mantém sobe controle, (as vezes não) as forças de fofocas sobre sua relação com o presidiário Perry Smith (interpretado por Daniel Craig).

Sua forte ironia e seu apurado sendo de humor são cartas usadas, com inteligência, ao lidar com os poderes da justiça a fim de conseguir as concessões para as entrevistas. Material que seria minuciosamente usado na redação de seu livro “À sangue frio”, livro este que veio há ser um marco na escrita jornalística.

Marco que também veio ocorrer na vida pessoal do escritor, pois as relações que deveriam ser levadas no mais alto padrão do profissionalismo são fortemente abaladas pela proximidade afetiva de Capote com Smith. Ponto que deixa no ar questionamentos como a relação entrevistador/fonte.

O filme faz uso de elementos comuns como: amor, solidão, medo, amizade, afeto... para humanizar, e em alguns momentos nos colocar familiar ao assassino. Que perturbado, pode ter agido, em sua ação animalesca, num ímpeto de compaixão a fim de minimizar sofrimentos. Pelo olhar de Capote o homicida é digno de compaixão, pois poderia ser qualquer um de nós.

A história do filme se adensa e começa a lançar luz sobre a personalidade do entrevistador. Na medida em que o assassino é pressionado e lavado a fazer confissões sobre o crime, é possível perceber que Truman também é colocado, como diante de um confessionário, em confronto com suas intimas lembranças.

Para ter mais do assassino, terá também que confessar seus mais escondidos pecados. Essa troca entre os atores é que torna os diálogos interessantes e que dá o tom envolvente ao drama.

O fato lamentável é que com um orçamento de estimados US$ 13 milhões o filme não tenha faturado nem 10% deste valor. Ficando à sombra do premiado “Capote” que com um custo em torno de US$ 7 milhões rendeu mais que o quádruplo deste valor, somente nas bilheterias americanas.

Fica agora nas mãos do leitor/espectador assistir e dizer qual é o melhor filme “Capote” ou “Confidencial”?

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