sexta-feira, 17 de junho de 2016



Resenha sobre o livro Minha Razão de Viver: Memórias de um repórter X Realidade Política Hoje

Igor Lucas Guilherme 

O jornalista Samuel Wainer, nascido em 1910 na Rússia, narra no livro “Minha Razão de Viver: Memórias de um Repórter” as suas experiências pessoais, jornalísticas e a sua vivência com o ex presidente Getúlio Vargas durante o período em que o político foi senador (1946- 1950) até seu segundo mandato como presidente, a partir de 1951.

A aproximação do jornalista com Vargas, desde março de 1949, possibilitou a criação do jornal Última Hora, no qual Wainer deu espaço para que esse veículo fosse aliado ao Governo, apoiando as ações do Palácio do Catete. O cenário político da época estava conturbado, momento em que Getúlio Vargas tinha uma forte oposição liderada por Carlos Lacerda, jornalista aliado à União Democrática Nacional (UDN) e chamado pelos apoiadores do Governo de “agente provocador e golpista”. Uma proposta de impeachment contra Vargas chegou a ser tramitada, mas foi derrotada.

“Getúlio ao povo: Só morto saio do Catete”. Essa foi a manchete publicada no Última Hora em 23 de agosto de 1954, a pedido do próprio presidente. Wainer relata a partir desse momento um fato que estava por vir e que entrou para a História do Brasil: O suicídio de Getúlio Vargas no dia 24 do mesmo mês. A oposição, a crise política e entre outros fatores, um atentado cujo alvo era Carlos Lacerda, mas que acabou atingindo um oficial da Aeronáutica, abalaram o Catete e consequentemente, o presidente.

Crises na política sempre existiram. No cenário do Brasil atualmente, não é diferente. Eleita para seu segundo mandato a partir de 2015, Dilma Rousseff perdeu apoio no Congresso Nacional e também foi abandonada pelo partido aliado na chapa, o PMDB, que tinha como vice presidente, Michel Temer. Em seu livro, Wainer relata as desavenças e a falta de confiança por parte de Getúlio Vargas em Café Filho, seu vice. “Um homem sem qualquer vestígio de dignidade”. Assim Vargas pensava sobre Filho.

Outro fator relacionado ao cenário de hoje é a atuação de uma oposição liderada por pessoas influentes. Os contrários ao Governo Dilma no Congresso, diante também de manifestações, levaram a frente um pedido de impeachment que foi acatado e culminou no afastamento da presidente. Vargas não foi afastado, mas também não quis renunciar, a saída para o próprio foi a morte. De acordo com Wainer, o presidente teria forças para continuar lutando pelo seu poder, apesar das conspirações. “Milhões de getulistas certamente iriam à luta se o chefe assim o desejasse. Mas Getúlio não quis: preferiu o tiro no coração” (Wainer, p.208). Já Dilma também ficou no cargo e está indo em busca de reverter a situação.

A palavra “golpe” na época em que Vargas estava no Governo do Brasil era muito usada para exemplificar as ações da oposição, de acordo com os relatos de Wainer. Os militares também estavam contra o presidente, o que se intensificou quando o oficial da Aeronáutica foi assassinado. Hoje, os que participaram do afastamento de Dilma Rousseff também são chamados de golpistas, assim como os que os apoiam.


Nos Governos formados no período entre Vargas e Dilma, outras ações, crises e confrontos ocorreram. Ditadura Militar, Nova Constituição, impeachment, etc. O cenário narrado por Samuel Wainer, em muito se parece com o de hoje. De toda a forma, nos dois tempos políticos, apesar de existirem as ameaças ao Governo, para Vargas existiu os que acreditavam e o apoiavam. Assim como Dilma que tem seus seguidores apoiando e esperando a sua volta ao poder. 

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