sexta-feira, 17 de junho de 2016

Resenha - Minha Razão de Viver

 
Os amigos Wainer e Vargas.
- Presidente, se o senhor soubesse de onde saí, se conhecesse o caminho que eu percorri até chegar à beira dessa cama para participar deste momento histórico da vida do país, saberia que não me deve nada. Sou eu que lhe devo tudo (WAINER, 2003, p. 17).

Provindo do Império Russo, especificamente da Bessarábia, Samuel Wainer foi um dos maiores jornalistas que o país já teve. Se ouvirmos, por diversas vezes, que não podemos deixar as oportunidades que a vida nos oferece escapar, Wainer colocou muito bem em prática tal afirmativa. Tanto que, foi amigo de nada mais nada menos do que três presidentes da República: Getúlio, JK e Jango. Destaque para o primeiro, onde, na campanha de reeleição, viveu intensamente a campanha eleitoral. Fato que motivou, após a vitória, o próprio Getúlio a recompensar o jornalista, do bairro Bom Retiro, devido o envolvimento.

A amizade ficou “estremecida” apos a instauração do Estado Novo, onde Wainer passou a ser perseguido. Com o distanciamento entre os dois, cogitou-se que Samuel não passou de um oportunista para ficar lado a lado com Vargas. O distanciamento deu-se, pois segundo o comunicador, Vargas era a “encarnação do mal”, e ele devia ser combatido a todo custo.

No entanto, isso não impediu que elogios fossem realizados para as atitudes do presidente. Wainer deixou explicitamente a admiração que tinha pelo presidente, visto que ele conduzia as negociações políticas com uma sapiência inigualável.

A admiração pelo gaúcho era tamanha que Wainer utilizava no A Última Hora a retórica populista. Pois, assim ele conseguiria conquistar tanto o público, que era vital para o jornal existir, quanto propagar os ideais varguistas.
Enfim, A Última Hora reunia assuntos de interesse do governo da época, até mesmo, pois foi Getúlio que impulsionou o sonho de Samuel em inaugurar o próprio jornal. Por essa razão, havia espaço dedicado aos serviços realizados pelo presidente do Brasil.

Eu lutava por uma causa. Da mesma forma, fiz acordos e acertos que muita gente condena, mas também estava em jogo a sobrevivência da Última Hora. Nada guardei para mim (WAINER, 2003, p. 261).

Os anos passaram, e esse tipo de prática continua presente no jornalismo brasileiro. Não é raro vermos jornalistas que defendem explicitamente determinados indivíduos da área política, como Merval Pereira defendendo os chamados políticos de direita. Os interesses, tanto do próprio jornalista, como da empresa de comunicação, continuam prevalecendo sobre o coletivo. A cobertura do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff é mais um exemplo.


Fica o desafio para a sociedade, e, principalmente, para os comunicadores do momento: até que ponto o meu interesse deve sobressair sobre o de uma nação?

WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2005.
 
Vitor Ramos Fórneas

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