Christian
Sima
Em 1945 surgiu o
movimento “Nós Queremos Getúlio”, conhecido como queremista, que buscava a continuação
do governo de Getúlio Vargas. Em um dos capítulos do livro “Minha Razão de
Viver” é retratado um encontro entre o Samuel Wainer (repórter e autor do
livro) e João Goulart. Na conversa entre os dois, Jango conta à Wainer que os
jornais que contavam sobre os avanços e crescimento do movimento faziam os
queremistas chorarem ao lerem as páginas. Na época, “os adversários de Vargas
entraram em pânico. Eles constataram que a rebelião queremista estava em marcha”
(WAINER, 1987, p.28).
Conversando com pessoas
que participaram do início do Partido dos Trabalhadores (PT), me vem a memória
o movimento queremista. O PT surgiu em 1980 e ganhou força nos anos seguintes,
sob a batuta de Lula. A derrota de Lula na década de 90 para Collor, nas
eleições presidenciais, foi uma das grandes decepções dos esquerdistas, que
viam a vitória como certa. Uma das propagandas de Lula contava com vários
atores da Globo, maior rede de televisão do Brasil. Nela, os atores uniam suas
vozes para cantar “Lula lá!”. Mais romantismo, impossível. Mas, enfim, nas
eleições de 2002, Lula conseguiu vencer e ser tornar presidente.
Hoje, principalmente
após os dois mandatos da petista Dilma Rousseff, alguns antigos petralhas olham
com decepção para a situação do país e relembram das esperanças que tinham no final
do século 20. Independentemente se o governo PT fez ou não bem ao país, nesse
ano o Brasil está numa grande crise. Com Dilma afastada, o seu cargo está
ocupado por seu vice, Michel Temer. Mesmo que interinamente, há grandes chances
de Temer seguir no governo definitivamente ao final do processo de impeachment. Temer e o seu partido, o
PMDB, apoiaram o afastamento de Dilma. Outro fato que tem relação com o livro
de Wainer.
Em 1949, Wainer viajou junto com o então presidente de São Paulo, Ademar de Barros. Dentro do avião do governador paulista, o repórter ouviu a seguinte fala de Ademar:
“- Teu amigo [Getúlio
Vargas] me corneou [...]. É um filho da p..., mas não há alternativa: teremos
que sair juntos” (WAINER, 1987, p.30).
Alguma semelhança entre
as “parcerias” Vargas & Ademar e Dilma (PT) & Temer (PMDB)? Todas.
Ambas sabiam que precisavam de um do outro para chegar ao poder, mesmo tendo
opiniões contrárias. Quando Temer e seu partido perceberam que Dilma havia
perdido muita força no Senado, na Câmara e na sociedade, pularam fora do “barco
da Estrela Vermelha” e deram a força necessária para o seguimento do impeachment. Provavelmente, se o PMDB se
mantivesse como aliado do PT, Dilma não seria afastada. Quando a presidente se
refere ao Temer como “golpista”, certamente ela gostaria de parafrasear Ademar
de Barros e dizer: “É um filho da p...!”.
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