sábado, 18 de junho de 2016

Vargas e Temer: os filhos da p...

Christian Sima

Em 1945 surgiu o movimento “Nós Queremos Getúlio”, conhecido como queremista, que buscava a continuação do governo de Getúlio Vargas. Em um dos capítulos do livro “Minha Razão de Viver” é retratado um encontro entre o Samuel Wainer (repórter e autor do livro) e João Goulart. Na conversa entre os dois, Jango conta à Wainer que os jornais que contavam sobre os avanços e crescimento do movimento faziam os queremistas chorarem ao lerem as páginas. Na época, “os adversários de Vargas entraram em pânico. Eles constataram que a rebelião queremista estava em marcha” (WAINER, 1987, p.28).

Conversando com pessoas que participaram do início do Partido dos Trabalhadores (PT), me vem a memória o movimento queremista. O PT surgiu em 1980 e ganhou força nos anos seguintes, sob a batuta de Lula. A derrota de Lula na década de 90 para Collor, nas eleições presidenciais, foi uma das grandes decepções dos esquerdistas, que viam a vitória como certa. Uma das propagandas de Lula contava com vários atores da Globo, maior rede de televisão do Brasil. Nela, os atores uniam suas vozes para cantar “Lula lá!”. Mais romantismo, impossível. Mas, enfim, nas eleições de 2002, Lula conseguiu vencer e ser tornar presidente.

Hoje, principalmente após os dois mandatos da petista Dilma Rousseff, alguns antigos petralhas olham com decepção para a situação do país e relembram das esperanças que tinham no final do século 20. Independentemente se o governo PT fez ou não bem ao país, nesse ano o Brasil está numa grande crise. Com Dilma afastada, o seu cargo está ocupado por seu vice, Michel Temer. Mesmo que interinamente, há grandes chances de Temer seguir no governo definitivamente ao final do processo de impeachment. Temer e o seu partido, o PMDB, apoiaram o afastamento de Dilma. Outro fato que tem relação com o livro de Wainer.

Em 1949, Wainer viajou junto com o então presidente de São Paulo, Ademar de Barros. Dentro do avião do governador paulista, o repórter ouviu a seguinte fala de Ademar:

“- Teu amigo [Getúlio Vargas] me corneou [...]. É um filho da p..., mas não há alternativa: teremos que sair juntos” (WAINER, 1987, p.30).

Alguma semelhança entre as “parcerias” Vargas & Ademar e Dilma (PT) & Temer (PMDB)? Todas. Ambas sabiam que precisavam de um do outro para chegar ao poder, mesmo tendo opiniões contrárias. Quando Temer e seu partido perceberam que Dilma havia perdido muita força no Senado, na Câmara e na sociedade, pularam fora do “barco da Estrela Vermelha” e deram a força necessária para o seguimento do impeachment. Provavelmente, se o PMDB se mantivesse como aliado do PT, Dilma não seria afastada. Quando a presidente se refere ao Temer como “golpista”, certamente ela gostaria de parafrasear Ademar de Barros e dizer: “É um filho da p...!”. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário