sábado, 18 de junho de 2016

De 1988 a 2016 – Uma comparação entre o livro “Uma Razão de Viver” e a política atual.

Por Warley Carvalho

Imagem da internet





O livro “Uma Razão de Viver: memorias de um repórter” de Samuel Wainer, publicado em 1988, aborda o cenário político do contragolpe no governo de João Goulart. Jornalista e escritor, Samuel Wainer expõe os aspectos de conspiração e articulação para que o presidente fosse deposto, além de expor, em tom confidencial, as estratégias de arrecadação de dinheiro para financiar o golpe.

Só por aí, já é possível identificar pontos de semelhança com o atual golpe cometido conta a primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff. Wainer, em exercício de sua profissão e por acesso privilegiado aos departamentos do governo, pôde ser testemunha dos acontecimentos que culminaram no golpe militar de 1964.

Hoje é possível presenciar e acompanhar, quase em tempo real - pelos meios tecnológicos, acesso à internet, à transmissão ao vivo dos debates na câmara - os feitos e desdobramentos de conspiração conta o governo que não agrada a oposição. É só ficar de olho e prestar atenção que está tudo ali.

O livro de Wainer é biográfico, por dois motivos, primeiro por tratar da vida e carreira profissional do jornalista ao se envolver na política e com isso construir o “império” do jornal Última Hora, e, segundo, por falar da história política do país com abordagem de bastidores, que muitos livros de história não contam.

 Wainer viu na parceria com Getúlio Vargas a oportunidade de trabalhar sua imagem, tanto para as campanhas política como para ganhos financeiros que permitiram a estruturação da empresa jornalística. Porque na política as trocas financeiras são a base, desde sempre, como já dizia o economista Milton Friedman, que popularizou a frase: “não existe almoço grátis”.

Em paralelo é possível observar que, na atualidade, a política não está muito diferente que há cinquenta anos atrás. O noticiário dos últimos dias não nos deixa esquecer o quanto a população está sujeita aos interesses de uma classe que não pensa o bem-estar comum, mas sim, nos próprios benefícios.

Prova disso são os escândalos recorrentes que se assemelham aos episódios de um seriado americano, tamanha as bizarrices que se vê noticiar por aí. Mas tenhamos fé!


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Wainer, em sua obra, já alertava que a política é um jogo, onde se mata ou morre. A mídia, de uma forma geral, está comprometida com as instituições políticas, pois é de lá que vem as concessões e os financiamentos para que as empresas se sustentem.





Isso compromete as abordagens noticiosas, pois não se deve cuspir no prato que se come. Assim a imprensa, muitas vezes se cala diante dos abusos políticos, ou mudam a abordagem para se fazer ver aquilo que não está realmente acontecendo.

Como foi com Getúlio, impelido ao suicídio por pressão a uma renúncia da qual não estava disposto a aderir. Assim também com Dilma, levada por falta de apoio parlamentar, a renunciar à presidência da república. Conspiração que ainda se arrasta e que tem desfecho incerto.

Pode-se dizer que a construção de uma identidade política, e o amadurecimento da mídia no Brasil andam de mãos dadas. A política não freia a mídia, porque precisa dela, e qualquer medida de conter a impressa pode ser um tiro no pé, e um atentado à liberdade de expressão. Já a imprensa, não ataca diretamente os políticos, pois nos “bastidores”, muito se beneficia das finanças do governo.

O livro relata isso, na história de Assis Chateaubriand ao construir suas empresas de comunicação, foi forte os interesses e compromissos firmados com políticos, incluindo as vantagens tiradas da proximidade com o presidente Vargas.

Evidente é a influência (e não manipulação) que os jornalistas têm sobre a população. São formadores de opinião e isso desde de Wainer (e certamente antes). Influenciam os políticos e a opinião pública. Mas fato que não muda é necessidade de o jornalista ser um apurador exímio, que faz seu trabalho com lupa.

A intenção aqui, não é julgar as atitudes de Samuel Wainer ou de qualquer outro, mas sim tomar Wainer como exemplo, pois mesmo após sua morte, por causa de seu trabalho e seu compromisso com os fatos, permitiu que tivéssemos conhecimento dos bastidores políticos daquela época.

Elemento que hoje capacita muitos estudiosos e jornalistas a olharem com desconfiança para os meios de comunicação - que por vez se gaba de ser o defensor da verdade - como para a política que mais uma vez repete os erros do passado.

Abramos os olhos, amigos! Vivemos tempos de profunda observação.

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