Karen Costa
A razão de viver de
Samuel Wainer, relatada no livro de mesmo nome, foi o jornal “Última
Hora”. Criado por incentivo e financiamento indireto do
ex-presidente Getúlio Vargas, o veículo nos permite perceber
semelhanças entre o modo como se faz jornalismo hoje e a situação
política do país.
Jornalista por vocação,
como narra no livro, Wainer teve em sua carreira grandes momentos,
cobrindo eventos internacionais e em jornais como o Diários
Associados, de Assis Chateaubriand. Na época em que trabalhava para o
veículo, o jornalista foi incumbido de fazer uma reportagem sobre as
plantações de trigo no Brasil, mas acabou por mudar a rota do
piloto do avião e entrevistou o então senador Getúlio Vargas.
Vargas revelou que pretendia se candidatar à presidência e
voltar como o “governante das massas”. Da matéria surgiu uma
amizade entre Wainer e Vargas, e a carreira do jornalista deslanchou.
Buscando um aliado na
imprensa, que era em sua maioria antivarguista, o já presidente ofereceu
facilidades de financiamento a Wainer, que lançou o “Última Hora” e tornou-se a
mídia pró-varguista até o fim do seu controle do jornal. Nesse
episódio, podemos perceber a sempre parcialidade do jornalismo
brasileiro. Grupos de poder se “aliam” à veículos de
comunicação, que produzem a favor de determinado partido ou
político e recebem benefícios os mais diversos por isso –
benefícios estes lícitos ou não, em “trocas de favores”. Da
mesma forma que na época de Wainer, em que a imprensa era contra o governo e o jornalista passou a “defendê-lo”, hoje inúmeras publicações
produzem a favor do governo interino, por exemplo, da Veja à Folha,
enquanto outros mostram-se menos parciais ou contrários ao poder em
exercício.
Relações na área
política, assim como Wainer tinha, são essenciais a um repórter,
principalmente àqueles que cobrem esse âmbito no país. Porém, o
trânsito entre partidos deve ser indistinto, preferivelmente sem
propensões ou parcialidade.
É importante destacar que o jornalista ideal deve ser imparcial,
mas imparcialidade não existe, já que somos seres constituídos por
diferentes crenças, valores etc. Mas do trabalho jornalístico
espera-se, ao menos, licitude, mas situações de favorecimentos a
profissionais ou veículo, ou corrupção, podem ser conhecidos no jornalismo. Nas
memórias de Wainer, ele relata que não obteve favorecimentos
financeiros das relações que manteve politicamente, mas a obra
provoca reflexão do que é realmente integro no exercício da
profissão.
Ok
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