sábado, 18 de junho de 2016

Resenha: "Minha Razão de Viver"

Karen Costa 

A razão de viver de Samuel Wainer, relatada no livro de mesmo nome, foi o jornal “Última Hora”. Criado por incentivo e financiamento indireto do ex-presidente Getúlio Vargas, o veículo nos permite perceber semelhanças entre o modo como se faz jornalismo hoje e a situação política do país.

Jornalista por vocação, como narra no livro, Wainer teve em sua carreira grandes momentos, cobrindo eventos internacionais e em jornais como o Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Na época em que trabalhava para o veículo, o jornalista foi incumbido de fazer uma reportagem sobre as plantações de trigo no Brasil, mas acabou por mudar a rota do piloto do avião e entrevistou o então senador Getúlio Vargas. Vargas revelou que pretendia se candidatar à presidência e voltar como o “governante das massas”. Da matéria surgiu uma amizade entre Wainer e Vargas, e a carreira do jornalista deslanchou.

Buscando um aliado na imprensa, que era em sua maioria antivarguista, o já presidente ofereceu facilidades de financiamento a Wainer, que lançou o “Última Hora” e tornou-se a mídia pró-varguista até o fim do seu controle do jornal. Nesse episódio, podemos perceber a sempre parcialidade do jornalismo brasileiro. Grupos de poder se “aliam” à veículos de comunicação, que produzem a favor de determinado partido ou político e recebem benefícios os mais diversos por isso – benefícios estes lícitos ou não, em “trocas de favores”. Da mesma forma que na época de Wainer, em que a imprensa era contra o governo e  o jornalista passou a “defendê-lo”, hoje inúmeras publicações produzem a favor do governo interino, por exemplo, da Veja à Folha, enquanto outros mostram-se menos parciais ou contrários ao poder em exercício.


Relações na área política, assim como Wainer tinha, são essenciais a um repórter, principalmente àqueles que cobrem esse âmbito no país. Porém, o trânsito entre partidos deve ser indistinto, preferivelmente sem propensões ou parcialidade. 

É importante destacar que o jornalista ideal deve ser imparcial, mas imparcialidade não existe, já que somos seres constituídos por diferentes crenças, valores etc. Mas do trabalho jornalístico espera-se, ao menos, licitude, mas situações de favorecimentos a profissionais ou veículo, ou corrupção, podem ser conhecidos no jornalismo. Nas memórias de Wainer, ele relata que não obteve favorecimentos financeiros das relações que manteve politicamente, mas a obra provoca reflexão do que é realmente integro no exercício da profissão.

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