Verônica Barbosa
Capote,
filme baseado no livro A Sangue Frio, faz pensar até que ponto somos
jornalistas e estamos jornalistas para fazer de um fato, uma estória real com
princípio, meio e fim. Esse foi o desejo do jornalista Truman Capote que, ao
ler uma notícia sobre o assassinato de uma família inteira no Kansas, resolve
investigar e fazer dessa tragédia um livro reportagem ou jornalismo literário.
Com
o apoio de sua amiga e escritora Harper Lee, Capote viaja para o Kansas a fim
de colher informações com moradores da cidade, com polícia para então, começar
a escrever seu livro. No início, ele
encontra dificuldades porque ninguém na cidade queria falar sobre o assunto e o
delegado a frente das investigações também não colaborou.
Quando
estava por desistir, Capote e sua amiga recebem um convite para passar o natal
na casa do delegado, e diante de suas estórias envolvendo grandes
personalidades, ele caiu nas graças das mulheres, do delegado e de outras pessoas
da cidade. E com a confiança de todos, começa a colher os relatos sobre o
assassinato e família.
Sobre
pontos éticos relacionados ao jornalismo, Capote em alguns momentos se esqueceu
desses pontos e foi corrompido pela desejo de obter as informações a qualquer
custo. Ele muitas vezes usou de barganha
para que os assassinos pudessem falar sobre o crime. Outro ponto questionável
era o sigilo dos depoimentos. Tudo que
as pessoas relatavam a ele era repassado para um grupo de mulheres da alta
sociedade em forma de “fofoca”. Acredito
que mesmo que sendo para um livro em que todos iriam ler, é fundamental manter
em segredo os depoimentos das fontes, até mesmo para não comprometer o
andamento da história.
Capote
não usava nada para a anotar seus relatos. Confiava em sua memória e ao chegar
em casa redigia. Nem sempre ele relatou fielmente o que as pessoas diziam, por
que o que ele queria era uma estória que tivessem fim e fizesse sucesso. Por
causa disso, ele até teve uma divergência com sua amiga escritora que não
concordava com a forma com que ele fazia. Porém, ao tentar falar com os
assassinos recebeu um sinal de alerta. Um deles não queria falar porque em sua
concepção, o Capote não seria fiel ao seu relato e ele não queria nenhuma
mentira sobre a sua vida em um livro. A
partir de então, sobre uma promessa de escrever exatamente o que ele falasse, o
assassino, Pierry, aceitou falar. Como se isso não fosse uma obrigação do jornalista,
ser o mais fiel possível aos relatos e ao acontecimento, trazendo informações
mais próximas da realidade e da verdade o quanto for possível.
Por
fim, uma outra parte que não cabe ao jornalista, apesar de ser difícil
dependendo do tempo que se está envolvido com a história, é o envolvimento com
a fonte. Com a similaridade da história de vida do Pierry com a sua, Capote
começou a se identificar e criar um laço de afetividade com ele. Ora, os sentimentos e a parcialidade não
comprometeriam a forma relatar o que de fato aconteceu: Sabemos que o
jornalismo deve manter a imparcialidade mesmo quando temos uma opinião sobe o
assunto.
O
final do livro só foi escrito por Capote, após a morte dos dois assassinos que
foram enforcados. O livro a Sangue frio
teve um fim e com ele teve fim também a vida do Capote, que mergulhado na
tristeza, nunca mais escreveu nenhum livro e se acabou nas bebidas e nas
drogas.
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