sábado, 18 de junho de 2016

Resenha crítica do filme - Capote

Verônica Barbosa

Capote, filme baseado no livro A Sangue Frio, faz pensar até que ponto somos jornalistas e estamos jornalistas para fazer de um fato, uma estória real com princípio, meio e fim. Esse foi o desejo do jornalista Truman Capote que, ao ler uma notícia sobre o assassinato de uma família inteira no Kansas, resolve investigar e fazer dessa tragédia um livro reportagem ou jornalismo literário.

Com o apoio de sua amiga e escritora Harper Lee, Capote viaja para o Kansas a fim de colher informações com moradores da cidade, com polícia para então, começar a escrever seu livro.  No início, ele encontra dificuldades porque ninguém na cidade queria falar sobre o assunto e o delegado a frente das investigações também não colaborou.

Quando estava por desistir, Capote e sua amiga recebem um convite para passar o natal na casa do delegado, e diante de suas estórias envolvendo grandes personalidades, ele caiu nas graças das mulheres, do delegado e de outras pessoas da cidade. E com a confiança de todos, começa a colher os relatos sobre o assassinato e família. 

Sobre pontos éticos relacionados ao jornalismo, Capote em alguns momentos se esqueceu desses pontos e foi corrompido pela desejo de obter as informações a qualquer custo.  Ele muitas vezes usou de barganha para que os assassinos pudessem falar sobre o crime. Outro ponto questionável era o sigilo dos depoimentos.  Tudo que as pessoas relatavam a ele era repassado para um grupo de mulheres da alta sociedade em forma de “fofoca”.  Acredito que mesmo que sendo para um livro em que todos iriam ler, é fundamental manter em segredo os depoimentos das fontes, até mesmo para não comprometer o andamento da história.

Capote não usava nada para a anotar seus relatos. Confiava em sua memória e ao chegar em casa redigia. Nem sempre ele relatou fielmente o que as pessoas diziam, por que o que ele queria era uma estória que tivessem fim e fizesse sucesso. Por causa disso, ele até teve uma divergência com sua amiga escritora que não concordava com a forma com que ele fazia. Porém, ao tentar falar com os assassinos recebeu um sinal de alerta. Um deles não queria falar porque em sua concepção, o Capote não seria fiel ao seu relato e ele não queria nenhuma mentira sobre a sua vida em um livro.  A partir de então, sobre uma promessa de escrever exatamente o que ele falasse, o assassino, Pierry, aceitou falar. Como se isso não fosse uma obrigação do jornalista, ser o mais fiel possível aos relatos e ao acontecimento, trazendo informações mais próximas da realidade e da verdade o quanto for possível.

Por fim, uma outra parte que não cabe ao jornalista, apesar de ser difícil dependendo do tempo que se está envolvido com a história, é o envolvimento com a fonte. Com a similaridade da história de vida do Pierry com a sua, Capote começou a se identificar e criar um laço de afetividade com ele.  Ora, os sentimentos e a parcialidade não comprometeriam a forma relatar o que de fato aconteceu: Sabemos que o jornalismo deve manter a imparcialidade mesmo quando temos uma opinião sobe o assunto.


O final do livro só foi escrito por Capote, após a morte dos dois assassinos que foram enforcados.  O livro a Sangue frio teve um fim e com ele teve fim também a vida do Capote, que mergulhado na tristeza, nunca mais escreveu nenhum livro e se acabou nas bebidas e nas drogas.

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