Livro-Reportagem
Por: Bruno Costa, Wilson Albino, Warley Carvalho, Roberta Gregório, Elisângela Arantes, Monia Ferreira
Descaminhos da reportagem
Escrito pelo experiente jornalista Eduardo Belo, o Livro-Reportagem, como o próprio autor ressalta, surgiu de uma palestra e com o objetivo de servir de bússola aos estudantes. Na primeira parte o autor faz uso de um pequeno conto ficcional para mostrar os caminhos e “descaminhos da reportagem.
Por meio de uma historieta, Belo apresenta as diferenças existentes entre jornalistas iniciantes e experientes. Enquanto o segundo não mais tem entusiasmo com a profissão, sabe a quem procurar, quais lugares percorrer, o primeiro se empolga e não rejeita qualquer pauta, sair à cata de qualquer fonte, etc.
Há palavras que podem ser consideradas chaves ao longo do livro, dentre estas foco, planejamento e investimento. Belo também aponta a apuração como sendo um dos pilares do Livro- Reportagem.
A busca incessante por informações precisas é que torna o Livro-Reportagem algo atemporal. Daí a necessidade de focar no assunto a fim de que apuração não vá em remo diverso. Daí também a necessidade de planejar sobre o que vai se escrever.
O autor apresenta fatos importantes nos quais evidenciam que jornalismo e política sempre estiveram lado a lado. Um se apoia no outro. Um depende do outro. Enquanto o jornalismo publica os acontecimentos a política ajuda a sustentar o jornal, visto que para além de visões romântica, o jornal é uma empresa, um negócio.
Belo termina a segunda parte ressaltando a objetividade editorial surgida da pirâmide invertida. Por fim, o autor que conta com mais de 20 anos de profissão, cita vários exemplos de jornalistas possuidores de técnicas narrativas que produziram livros atemporais. Dentre os nomes célebres estão Samuel Waner, Rubem Braga, Joel Silveira, Capote, Gaytalese e outros.
Um pouco de história
O livro reportagem não tem uma data de nascimento, como diz o autor Eduardo Belo, para ele o nascimento deu-se antes mesmo da criação desse conceito. Mesmo assim, é possível estabelecer um ponto de partida aproximado: a reportagem em livro começou a ganhar força como um subgênero da literatura na Europa do século XIX.
Foi por meio da revolução industrial que o jornalismo deixou de ter apenas a característica intelectual e passou a ser uma atividade profissional, como conhecemos nos dias de hoje. Mas o divisor de águas capaz de gerar uma torrente de produção jornalístico-literária no mundo foi, segundo Belo, o fim da Segunda Guerra Mundial.
Vários fatores promoveram as mudanças de parâmetros no jornalismo. O clima fervilhante da época e o avanço tecnológico dos jornais deram um novo impulso à produção de matérias de grade fôlego, muitas delas levadas às páginas dos livros, e reaproximou o jornalismo da literatura.
O New Journalism (Novo jornalismo), foi mais um dos vários efeitos da guerra. Os donos de jornais mesmo com os recursos escassos, tiveram que mandar os seus repórteres para os fronts, lá eles eram responsáveis, segundo o auor, por enviar as histórias às redações. Das cenas da guerra vistas pelos jornalistas, surgiram histórias impressionantes e que geraram grande impacto na população e que após encherem as páginas do jornais, foram parar em livros feitos pelos seus autores.
Belo diz que foi na guerra que surgiu o lead, um dos principais recursos utilizados pelos jornalistas do mundo inteiro, além de ser peça primordial para qualquer notícia. O lead nada mais é que a ordem de pirâmide invertida, onde as informações mais importantes estão dispostas no topo do texto, seguido pelas informações secundárias.
O jornalismo com viés mais literário surgiu no Brasil diante as publicações da revista O Cruzeiro.
Manancial quase inexplorado
O crescimento do livro-reportagem se deu nos anos 80, influenciado pela abertura política e, também, com o fim do regime militar. Os livros desvendam os últimos anos do período militar. Os primeiros livros publicados foram:
- O Complô que elegeu Tancredo – Ricardo Noblat, José Negreiros, Roberto Lopes e Gilberto Dimenstein (1985)
- República dos padrinhos de Dimenstein (1988). A obra retrata os casos de corrupção e nomeação de cargos no governo de Sarney.
Ela enriqueceu a cobertura dada pela Folha de São Paulo.
Os livros possuiam uma linguagem do jornal impresso:
- Objetividade
- Muita informação
No entanto, os livros de pesquisa apareceram mais tarde.
Depois do regime militar os livros de economia ganharam destaque por conta da inflação. O livro De olho no dinheiro de Paulo Henrique Amorim (1988) ganha destaque por trazer “matérias de serviço” e não uma reportagem. Já com o plano real a venda de livros aumentou em 68% por causa da estabilidade econômica.
Crise em Papel:
O livro-reportagem preenche a lacuna deixada pelos jornais e complementa a matéria, pois, o leitor busca texto com qualidade e com profundidade. Os leitores vão em busca, segundo o autor da “reportagem perdida”. Para ele falta espaço para análise do noticiário e aprofundamento dos temas abordados.
Nos EUA e na Europa os livros são sobre:
- Figuras públicas
- Casos de grande repercussão
São leitores exigentes, que leem o jornal impresso mas gostam de histórias bem contadas e são mais críticos. No Brasil também é assim porém, com um número menor de leitores.
Os problemas do mercado editorial são:
Público menor – tiragem pequena – distribuição cara
Os fatores econômicos e o pouco incentivo também prejudicam o mercado.
Subgêneros:
Há muita variedade mas, destaca-se a biografia:
- Ruy Castro e Fernando Morais
Policiais:
Caco Barcellos e Douglas Tavolaro
A casa do delírio de Douglas Tavolaro conta a história do Bandido da Luz Vermelha que passou pelo Manicômio de Franco da Rocha (esse texto foi elaborado como conclusão do curso de jornalismo que depois virou livro).
Elio Gaspari e a série sobre a ditadura no Brasil (20 anos para ficar pronta)
Sobrevivência:
Para o autor, deve-se escrever e manter um outro trabalho fixo para sobreviver.
O livro Apenas uma garotinha (Ana Claudia Landi e Eduardo Belo) levou 1 e meio para ficar pronto e as consultas foram com:
- 50 fontes identificadas
- 10 fontes anônimas
Além de pesquisa feita em edições de jornais e revistas, documentos em cartório, delegacias e no fórum do Rio de Janeiro.
Perguntado sobre se é possível viver de livros no Brasil Ruy Castro respondeu: – É possível, se você não parar de escrever um minuto. Ele explica que pode-se ter uma renda assim que a obra é lançada ou quando se tem muitos livros publicados. No mais, é preciso manter outro emprego para poder sobreviver.
Teoria é bom, mas prática é melhor
Não é necessário ser jornalista para escrever um livro reportagem, o que vai importar é o compromisso é método aplicado;
Ética: O escritor precisa ter boas maneiras para obter suas informações, o uso de câmeras escondidas, disfarces, escutas e entre outros métodos é questionável;
Nos Estados Unidos há uma linha de conduta ética para usar esses aparatos,são elas: a) matéria de importância profunda; b) quando não houver outras formas de conseguir a informação; c) quando o dano a ser evitado é maior que o feito pela reportagem;
Entrar na vida particular do entrevistado também deve ser evitado. Deve-se perguntar se a informação do “furo” é realmente importante para a sociedade. Como, por exemplo, falar de uma antiga traição de um político, que pode não ser realmente necessário para a reportagem.
PAUTA
Assim como as demais reportagens, o livro também necessita de uma pauta;
Essa pauta aponta para um plano de ação/roteiro;
Nos veículos, ela costumou ser aberta ao público nas edições publicadas;
Transformar a ideia inicial em uma pauta é o primeiro passo;
Essa pauta logo vai se desdobrar em um projeto de livro.
PROJETO
O projeto tem o objetivo de nortear o autor e evitar surpresas em sua escrita;
É preciso apresentar bem a proposta do livro e do que se pretende dizer. Além disso, esse projeto prevê a condução dão trabalho e é fundamental para as editoras avaliarem;
Deve ser pensado na viabilidade comercial do projeto, um dos elementos que jornalistas costumam esquecer. Ou seja, pensar no retorno financeiro daquele livro;
Para apresentar o projeto, o autor já deve ter algum conhecimento sólido sobre o tema;
Deve-se procurar editoras que tenham familiaridade com aquele tema e realizar uma pesquisa breve de como essas editoras escolhem os livros;
Também deverá conter os custos com a obra.
CUSTOS
Reportagens podem sair caro. Precisa de investimento em deslocamento, telefonemas, pesquisas e etc;
Deve-se fazer um levantamento com todos esses custos até o final do projeto, para ter uma estimativa de quando será gasto;
A margem de imprevistos é de 15% a 20%;
Muitos autores arcam sozinhos com os projetos;
No mercado editorial brasileiro, editoras não costumam arcar com os custos
O autor também pode recorrer às leis de incentivo, ao Ministério da Cultura ou patrocinadores,
Normalmente, esses patrocinadores não costumam bancar muitos projetos literários;
Além do que já foi citado, o projeto também pode mostrar se o livro vale ou não a pena.
APURAÇÃO
Apuração é a essência do jornalismo e da reportagem. É através dela que o assunto se torna mais fácil de ser escrito;
Erros de apuração: Escola Base;
Buscar a informação verdadeira e contextualizada;
Informações que dão dimensão aos fatos;
Não deve restar nenhuma dúvida na apuração;
Contextualizar com a história é ver se essa informação é importante para todo o livro;
Dois elementos centrais na apuração: pesquisa e entrevista.
PESQUISA
Terceirizar a pesquisa pode ser alternativa para ganhar tempo;
É a fase inicial da apuração;
A internet pode ser um instrumento fundamental para pesquisas, mas também pode ser fonte de problemas. É preciso checar fontes confiáveis e desconfiar de todos os dados;
Documentos também são fontes importantes para a apuração, mas no Brasil é muito difícil ter acesso a eles;
Documentos dão credibilidade ao texto.
ESTATÍSTICAS
Precariedade de estatísticas no Brasil;
Dados de pesquisas podem ser muito diferentes;
É preciso lembrar que quem faz essas pesquisas têm interesses;
Especialistas podem ser úteis para entender os dados;
O computador é um importante aliado para lidar com os dados.
ENTREVISTA
Entrevista tornou-se um dos principais métodos de obter informações;
Diferentes formas de entrevistas foram sendo introduzidas com o decorrer do tempo;
Dá um toque mais humanístico ao texto;
Uma entrevista bem feita pressupõe uma pesquisa prévia e um roteiro de perguntas;
O roteiro de perguntas,mesmo que não usado, é importante para dar noção do domíni que o jornalista tem do entrevistado/tema;
Entrevistas também precisam de habilidade. Grandes entrevistadores possuem técnicas para obter informações e conquistar o entrevistado;
Uma boa entrevista parece um diálogo fluente. É preciso que não reste nenhuma dúvida após ela;
O entrevistador precisar ter respeito e humildade, já que o entrevistado está fazendo um favor ao dar entrevista;
Além disso, é preciso saber que há interesses naquelas respostas, então é preciso checá-las;
Gravar x Não gravar;
É preciso deixar o entrevistado a vontade e, muitas vezes, deixar falar sobre o que está familiarizado;
Erros comuns: interromper desnecessariamente ou concluir a fala do entrevistado;
Distorção de informações pode ser dadas, principalmente com grupos de interesse;
Confrontar dados com o informante;
Informações em on ou off;
Justificativa para o off.
TEXTO
Textos possuem características muito distintas dependendo de quem os escreve;
Por ter mais tempo para a publicação, há mais espaço para o jornalismo literário acontecer nos livros-reportagens;
Dicas: ser você mesmo ou ousar;
Seguir um roteiro para escrever pode fazer com que não repita informações
EDIÇÃO
A edição fica por conta da editora;
Imagens e iconográficos também são colocados pela editora;
Outros profissionais também fazem parte desse processo: editor, revisor, preparador e designers;
Por último, a edição final chega ao autor.
Segundo Eduardo Belo, em 1946, o jornal americano, The New Yorker, apresentou a cobertura jornalística mais ousada de todos os tempos. Relatando a história de seis sobreviventes do bombardeio atômico de Hiroshima, a matéria ocupou todo o jornal e quebrou a tradição de respeitar as seções fixas.
A edição, com tiragem para apenas uma cidade, esgotou-se em poucas horas e muitos de seus pedidos de reimpressão não puderam ser atendidos. A matéria de Hersey deu a impressão humana dos acontecimentos quando, naquela época, pairava um manto de silêncio sobre os motivos da rendição do Japão na Segunda Guerra.
Com sutileza, elegância, vigor e sensibilidade, Hersey despertou a opinião pública. A população americana ganhava elementos e base suficiente para refletir sobre a atuação dos Estados Unidos ao final da guerra.
O sucesso da história se deve a cinco fatores: o caráter humano; apuração rigorosa; texto denso, vigoroso e ao mesmo tempo enxuto, claro e conciso; a participação dos editores; ineditismo da matéria.
A reportagem relata a vergonha dos sobreviventes. No Japão, as pessoas preferem morrer como heróis, pela pátria, a ter de passar pela humilhação de sobreviver a uma derrota em que outros sucumbiram.
A matéria demorou seis semanas para ser escrita. A pós quarenta anos da edição original, o autor da matéria voltou aos seus personagens e fez um resumo breve sobre o que havia se sucedido a eles, fechando assim o último capítulo da atual edição de Hiroshima.
Hiroshima é uma aula de bom jornalismo, para quem precisa de uma receita de boa reportagem, Hiroshima é um dos melhores modelos possíveis de serem encontrados.
A matéria demorou seis semanas para ser escrita. A pós quarenta anos da edição original, o autor da matéria voltou aos seus personagens e fez um resumo breve sobre o que havia se sucedido a eles, fechando assim o último capítulo da atual edição de Hiroshima.
Hiroshima é uma aula de bom jornalismo, para quem precisa de uma receita de boa reportagem, Hiroshima é um dos melhores modelos possíveis de serem encontrados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário