Por Monia Ferreira
Ao longo de 288 páginas, o livro “Minha Razão de Viver” conduz o autor à trajetória de um dos mais brilhantes nomes do jornalismo brasileiro: Samuel Wainer. O fundador da revista O Cruzeiro e do jornal A Última Hora passou sua carreira baseada em um velho dilema do jornalismo, que continua a se repetir. As parcerias políticas, o jogo de poderes e o jornalismo como ator social permeiam a trama de Wainer e nos faz refletir sobre o atual momento vivido pelo Brasil.
Apaixonado por jornalismo, Wainer era uma figura não apenas talentosa, mas que sabia se valer do poder que tinha como comunicador. No livro, a inimizade com Carlos Lacerda e o apoio a Getúlio Vargas faz perceber o quanto política e jornalismo pode ser uma faca de dois gumes. Sem sombras de dúvidas, o livro traz importantes reflexões históricas a respeito desse assunto.
Não muito diferente da época de Wainer, atualmente os meios de comunicação continuam a exercer um grande poder de influência às pessoas. Uma das reportagens de maior reconhecimento citadas pelo autor é “Eu voltarei como líder das massas”, sobre Getúlio Vargas. Sem entrar na questão sobre objetividade ou não, é fácil notar o posicionamento do jornal e como isso pode refletir na opinião do público.
Um exemplo disso na atualidade não falta, mas a reportagem “Bela, recatada e do lar” pode ilustrar perfeitamente o posicionamento da revista Veja sobre a então futura primeira-dama interina do Brasil, Marcela Temer. Adjetivos como esses nunca foram usados para se referir a presidenta Dilma Rousseff. Em uma capa para a mesma revista, Dilma aparece com Lula, ambos do PT, com a seguinte manchete “Eles sabiam de tudo”, relacionando com a polêmica do Petrolão.
Em “Minha Razão de Viver” fica claro que, mesmo jornalistas talentosos fazem valer do jogo político para chegar até o público. Da mesma forma, esses políticos também encaram o jornalismo como um importante ator público. Getúlio foi um importante nome para que o jornal A Última Hora fosse fundado, já que ele não tinha nenhum aliado dos jornais.
As concessões de televisão também não fogem muito desse esquema político. Na época da ditadura militar, não foram poucos - se não todos - que se beneficiaram com auxílio ao golpe e com a continuidade do apoio. Qualquer manifestação de opiniões diferentes não estava presente na programação.
Foi justamente no período de ditadura que Wainer se sentiu refém da política, sendo obrigado a ir para o exterior para não ser preso. A imprensa foi um dos poderes que mais se prejudicou nesse período, como o autor fala que chegou a ser amigo de um militar para poder se proteger. As parcerias são velhos recursos adotados pelo jornalismo para se enaltecer ou se proteger.
Atualmente, não há como negar que vários veículos de comunicação fogem do compromisso com a notícia para prejudicar algum político. Mesmo que sua linha editorial tenha uma opinião contrária, é preciso informar o público da melhor forma possível. Nas manifestações pró-impeachment, por exemplo, algumas emissoras destinavam um maior tempo de sua programação para cobrir esses eventos. Em contrapartida, as manifestações a favor do governo eram apenas citadas em algum programa do veículo.
Autora: Monia Cristina Ferreura
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