sábado, 18 de junho de 2016

Resenha Crítica: Minha Razão de Viver

Izabella Medeiros

Foto: Reprodução da Internet
A autobiografia ‘Minha Razão de Viver’ conta inúmeros relatos peculiares da história de Samuel Wainer, um importante comunicador do Brasil. Editado por sua filha, Pinky Wainer, o livro foi lançado em 1988, exatamente oito anos após a morte do escritor. Ao todo, são 282 páginas divididas em 36 capítulos.

Judeu e de origem humilde, o autor relata que veio para o Brasil aos 2 anos de idade. No país, viveu no bairro Bom Retiro, em São Paulo. Algo muito intrigante na vida de Wainer é que, mesmo não dominando o dom da escrita, como ele mesmo afirma, soube aproveitar bem as oportunidades que a vida lhe deu. É explícito e até mesmo inspirador sua paixão pelo ofício. Sem dúvidas, um dos mais importantes jornalistas que o Brasil teve.


O livro não começa em ordem cronológica, mas inicia-se com a história que tornaria um simples jornalista em um dos profissionais mais conhecidos de todo o Brasil. O fato é que Samuel Wainer realizou uma entrevista inédita com o então candidato a presidência Getúlio Vargas, algo relativamente difícil na época. Além da matéria, Wainer conquistou também a amizade e confiança de Getúlio, mais tarde, passou a conviver com a elite política do Brasil.


Tendo como principal apoio e incentivo seu amigo Getúlio Vargas, Wainer conseguiu abrir o periódico ‘Última Hora’. O nascimento do jornal revela que a amizade também se baseava em interesses mútuos. Wainer precisava de dinheiro e queria ser ‘livre’ para exercer um jornalismo mais criativo e interessante para os leitores. Ao mesmo tempo, Vargas precisava de um meio para promover suas ideais e a própria recandidatura.


Contudo, a fama de ‘Última Hora’ passou a gerar extrema revolta e fúria da oposição. Waine chegou a ser acusado de receber financiamento do Banco Central. O comunicador também foi denunciado por ser estrangeiro e dono de um periódico no Brasil, algo proibido pela constituição. Na verdade, essa foi uma medida do também jornalista Carlos Lacerda para acabar de vez com o jornal. No fim, os bons tempos de Wainer duraram até o Golpe Militar, nos ano de 1964.


Nos dias de hoje, não é difícil notar semelhanças entre a época de Wainer e a relação entre os meios de comunicação com a política brasileira hoje. Influência, poder, troca de favores e corrupção ainda são comuns na imprensa, infelizmente.


No Brasil, existe o que chamamos de oligopólio da mídia impressa, composto pela família Abril, Estadão, Folha e Globo, que dominam o setor com o financiamento estatal via publicidade. Ou seja, poucas empresas detêm o controle da maior parcela do mercado.


Sabemos que o ideal do jornalista é trabalhar com a imparcialidade, contudo, não é o que realmente acontece. Um dos principais problemas das grandes mídias é que elas mascaram que, na verdade, são absolutamente parciais quando se trata de política. Exemplo disso são as coberturas que os principais telejornais estão fazendo sobre o governo interino de Michel Temer e as inúmeras manifestações contra o afastamento de Dilma Rousseff.


Conhecendo melhor a história de Samuel Wainer e refletindo sobre os recentes acontecimentos, acredito que um dos grandes desafios da nossa profissão é sempre trabalhar com a transparência.


WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2005.


Um comentário: