sexta-feira, 17 de junho de 2016

Resenha Crítica: Confidencial (2006), de Douglas McGrath


Por Danilo da Silveira

O limite entre realidade e ficção é fruto de muita discussão dentro do jornalismo. Por exemplo, em 2003, o jornalista americano, Rick Bragg, foi suspenso pelo New York Times por publicar matérias de um outro repórter, que eram inventadas e copiadas. Bragg foi ganhador do Pulitzer de “melhor reportagem” em 1996. No mesmo ano, Jayson Blair, outro funcionário do jornal americano, foi alvo de investigação. Segundo o portal Último Segundo, Blair – que pediu demissão ao ser descoberto – inventava detalhes e apurações em locais onde nunca estivera.

Em Confidencial (2006), filme que retrata a composição do livro A sangue frio de Truman Capote, dilemas éticos ao tornar uma reportagem, que faria para a New Yorker, em romance. Mas Capote não pensava em tornar em um romance qualquer: e sim, um romance de não-ficção. O livro relata a história de dois homens que, no interior do Kansas (EUA), assassinaram uma família inteira. Para a produção da obra literária, Capote precisaria se relacionar com os criminosos, o que resultou em uma aproximação mais amistosa com um dos suspeitos.

Clovis Rossi, em seu livro O que é jornalismo, define o fazer do repórter como “uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes”. Segundo o autor, esta “batalha” é temperada pelo mito da objetividade, que é “quase inatingível”.

A dramaturga Renata Pallottini, no livro Dramaturgia, “o autor, na criação de um personagem, desenha um esquema de ser humano”. A escritora afirma, ainda, que criar uma personalidade verossímil não significa investir em seres comuns ou realistas. De acordo com Peter Berger e Thomas Luckmann, no livro A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento, “a vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente”.

É claro que Capote, em suas funções de romancista, usou aspectos literários para a concepção da história do assassinato. Apurou a fundo, ao longo de cinco anos, o que pareceu, em algumas passagens do livro, que o autor estaria inventando. Este pressentimento foi também concebido quando um novo movimento jornalístico surgiu nos EUA, no final da década de 1950 – o new journalism. Se bem que, em uma das cenas finais do filme (por seu aspecto “documentário”), é possível saber que Truman inseriu brilho e sentimento, ao que seria trágico e sem gosto – acrescentou um pequeno detalhe ao que não existiu.

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