Por Paula Alves
Minha
Razão de Viver: Memórias de Um Repórter
é um livro autobiográfico de Samuel Wainer. Seus relatos foram
ditados, em forma de entrevista, a Sérgio de Souza e a Marta Góes.
A vontade de Wainer era que o texto viesse à tona 25 anos após sua
morte. Assim aconteceu. Sua filha Pinky Wainer, na companhia de
Danuza Leão, transcreveu o material. Augusto Nunes organizou-o.
Os
fatos enumerados no livro sucedem da relação de Wainer com o
Jornalismo, materializada na fundação do jornal Última
Hora,
em junho de 1951. À época (como hoje), pensar a informação era
pensar, também, no conflituoso cenário político, na indissociável
correspondência entre os dois campos. Samuel tinha o hábito de não
anotar o que seus entrevistados diziam. Para ele, quanto mais livres
eles se sentissem, mais coisas poderiam ser ditas.
Tinha,
no sangue, a habilidade de entrevistar com maestria. E foi por meio
dessa arte que o jornalista resgatou Getúlio Vargas do esquecimento
e colaborou para que o político voltasse ao poder. Em solo gaúcho,
Wainer foi incubido de realizar uma grande reportagem sobre o trigo.
Assis Chateaubriand orientou-o que a defender que o País não
poderia produzir, de modo autossuficiente, a commodity. Inquieto,
convicto do contrário, Samuel mudou o rumo da pauta. Da história.
Há
dois anos, desde 1947, o ex-presidente não falava com a imprensa, e
aceitou ser entrevistado pelo jornalista. Esse fato é considerado
divisor de águas. No livro, é relatado minuciosamente, com riqueza
de detalhes. São Borja foi palco do início de uma grande – e
multifacetada – amizade. A promessa de Vargas, de que voltaria,
cumpriu-se em 1950. Fez brotar em Wainer o sentimento de missão
cumprida. Mudou, assim, a concepção que ele tinha sobre o Getúlio
de outrora, do Estado Novo.
No
poder, sob oposição que tinha como protagonista Lacerda, Getúlio
estreitou os laços com Wainer. Este o apresentou a Assis
Chateaubriand. A relação entre Chatô e Wainer não era saudável,
e as conturbações mais intensas são descritas na obra. Desse
impasse, e da sugestão de Getúlio, nasceu o periódico Última
Hora.
Veementemente, Lacerda voltou-se contra o jornal, seu dono e, claro,
contra Vargas. Desse embrólio, duas acusações exploradas na
autobiografia: que o jornal fora construído com operações de
crédito fraudulenta e que Wainer era estrangeiro, fato que impedia
seu vínculo societário com veículos de comunicação, levando em
consideração a lei vigente.
Como
desdobramente dessas acusações: a traição de Getúlio, os tiros
efetuados em Lacerda. A conspiração. O suícidio do presidente. O
golpe de 1964. Em 68, o jornalista, depois de percalços financeiros
para manter o Última
Hora,
retorna ao Brasil. Em 77, não mais dono do jornal, ingressou-se na
Folha.
Lá esteve até sua morte – 2 de setembro de 1980. Minha
Razão de Viver: Memórias de Um Repórter dá
conta dos mínimos e despercebidos detalhes de vida de Samuel Wainer
e de figuras caras à nossa história. Não só do jornalismo, mas
também da política. Daquilo que nos define.
De novo!
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