segunda-feira, 13 de junho de 2016

Jornalismo de Revista - Marília Scalzo


No livro “Jornalismo de Revista” de Marília Scalzo (2011), a autora mapeia os segredos do jornalismo de revista jornalísticas, descreve a história das revistas no Brasil, discute as técnicas de construção de um bom texto jornalístico unindo a informação com entretenimento, além de ressaltar o que faz uma boa revistas, e as questões éticas.

No primeiro capítulo a autora faz uma breve definição do que é revista. “Uma revista é um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento”. (Scalzo, 2011, p.11). A revista tem um importante papel de estabelecer um contato com o leitor, segundo 
Scalzo (2011, p. 12) “um fio invisível que une um grupo de pessoas e, nesse sentido, ajuda a construir identidade, ou seja, cria identificações, dá sensação de pertencer a um determinado grupo”. 

O chamado jornalismo de revista se diferencia dos outros meios de comunicação (impresso e digital) por causa da sua periodicidade. Suas publicações ou veiculações variam entre semanais, quinzenais ou até mesmo mensais. Os conteúdos abordados são mais diversificados, de acordo com Scalzo (2011) “trazem análise, reflexão, concentração e experiência de leitura”, ou seja, as notícias recebem um tratamento mais aprofundado do que os jornais. O texto jornalístico de revista é mais elaborado e interpretativo.

Para traduzir a ideia que a periodicidade passou a ser um instrumento de qualificação do jornalismo, Scalzo (2011, p.13) cita em seu livro o escrito Gabriel García Marquez onde ele diz que “
a melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor”.

No segundo capítulo, Marília Scalzo (2011) conta um pouco da história das revistas pelo mundo, como surgiu, e como se deu sua evolução destacando o grande sucesso delas pela Europa e ressaltando também que algumas deram certo são idéias a serem admiradas “existem, no universo das revistas, algumas ideias originais e geniais que deram tão certo, fizeram tanto sucesso, que viraram modelo e, por isso, estão rodando o mundo e sendo repetidas há muito tempo”.

Scalzo (2011), explica no terceiro capítulo o surgimento das revistas pelo Brasil citando sua segmentação, o público e explica as revistas que nasceram para o público feminino e as revistas voltadas para o público masculino.

Scalzo (2011) ainda ressalta que uma importante característica do jornalismo é saber ouvir. A revista tem um aspecto de intimidade com o leitor, mas é fundamental escutar o que o leitor tem a dizer, seja por cartas, telefonemas, e-mails ou pesquisas. É nesse contato que o leitor vai tirar dúvidas, criticar, oferecer ideias novas. É também onde surgem novas pautas. Um dos momentos preciosos para a revista, segundo a autora, são as pesquisas. Nelas são observadas os erros e acertos, o que funciona ou não -  em questão de design - e os assuntos que prendem os leitores ou passam despercebidos.

No capítulo “o que diferencia as revistas de outros meios?” a autora traz um ponto essencial: o formato. Segundo Scalzo (2011), a revista tem esse diferencial essencial visivelmente, pois é fácil de carregar, guardar e até mesmo colecionar.  Ela destaca que é preciso respeitar a vocação de cada meio, “Não adianta querer reproduzir os recursos da internet ou da TV em papel, assim como não dá para fazer uma revista de papel no vídeo ou na tela do computador.” Em contrapartida a autora cita que atualmente tablets, tem tido uma boa experiência em reproduzir exatamente o que está no papel. A revista que não apostam em sua essencial e ficam entre jornal, tv e internet, são caracterizadas pela autora como "mais ou menos" e não permanecem no mercado por muito tempo. Outro aspecto diferencial da revista é a sua durabilidade, devido à qualidade do papel e da impressão. De fato, elas duram mais que os jornais impressos. Há também a periodicidade, as revistas tem uma periodicidade diferente de qualquer outro meio de comunicação. Geralmente são mensais, quinzenais ou  semanais, gerando mudanças na rotina produtora do jornalista em relação aos jornalistas de rádio, TV e internet, que veiculam sua notícias em tempo real. O jornalista de revista é obrigado a repensar sua produção e encontrar novos fragmentos como um jornalismo mais analítico.  


Como em todo meio de comunicação as revistas também sofrem com as crises. Os veículos de imprensa concorrem entre si, disputando tempo, público e interesses cada vez mais escassos. Obrigando cada meio de comunicação a procurar um diferencial para seu produto. Os anúncios publicitários já não valem tanto quanto valiam antigamente, eles não são mais suficientes o bastante para garantir um financeiro prospero. A autora cita ainda que a velha máxima continua valendo, "é preciso falar com menos gente para falar melhor" (SCALZO, 2011, p. 44). Com isso revistas com públicos específicos ganham espaço.  Outra tendencia é as revistas feitas sob medidas, ou seja, feitas sob encomendas para uma empresa, ou grupos, chamadas publicações institucionais. São por essas revistas que empresas comunicam diretamente com funcionários ou clientes.

As revistas também sofrem com o impacto dos meios eletrônicos. Com a chegada da internet Scalzo (2011), lembra que o decreto do fim dos meios de comunicação impresso havia chegado, mas depois é percebido que os dois meios de complementam. De certo modo, as publicações impressas caíram brutalmente, mas por outro lado as revistas segundo a autora continuam crescendo. O segredo é oferecer o que os outros meios de comunicação não oferecem. Voltamos então para o tablet, que é onde as revistas aprofundam e usam o que o meio tem de melhor a seu favor.  "Na concorrência difusa entre os meios, o segredo é ser realmente o que é. No caso, o segredo é ser revista," (SCALZO, 2011, p. 52).

Para ser um bom jornalista de revista, o profissional deve conhecer bem o seu publico e ter como regra não escrever para si mesmo. O leitor vem sempre em primeiro lugar. é fundamental que o jornalista conheça seus erros, se perguntar o que pode fazer de melhor e se aprimorar e melhorar a qualidade de sua produção. A credibilidade começa por esses eixos. Os princípios são iguais para qualquer veiculo: apurar os fatos corretamente e ter o compromisso com a veracidade.

Uma das diversas vantagens da revista são os inúmeros recursos gráficos que ela oferece para se contar uma história, o bom jornalista de revista é aquele que consegue visualizar a notícia edita na página. Por mais que o texto esteja excelente, ele sempre será melhor visto com uma bela fotografia ou infografia. Para Scalzo (2011), a linguagem visual também é fundamental.  

A autora inicia o sétimo capítulo dizendo que o conceito de “boa revista” é mutável, porque as transformações gráficas, editoriais e também de público acontecem com uma frequência muito maior do que em décadas passadas. Para Scalzo (2011), revista boa é a que acompanha essas mudanças, principalmente as de perfil dos leitores. Ela também indica a adoção de um plano editorial, bem definido e constantemente revisado, para que tanto a publicação quanto o público saibam do que se trata o conteúdo da revista. Dessa forma, uma boa posição e uma longa duração no mercado são muito mais prováveis.


A capa da revista, de acordo com Scalzo (2011), é uma “vitrine” que tem como objetivo atrair o leitor para a compra e leitura. Para isso não existe uma fórmula pronta, mas a síntese de assuntos de interesse público, conteúdos quentes e exclusivos e uma boa relação entre texto, imagem e conjunto gráfico são sinais de uma capa que será vista e irá chamar a atenção dos leitores.

Claro que essa combinação não deve ultrapassar os limites traçados pelo projeto editorial da publicação, trazendo ideias que destoem do foco da revista e um design que vá “competir” com o conteúdo. Por isso, fotógrafos, designers e redatores devem todos seguir a linha jornalística, trabalhando juntos para criar uma identidade visual padrão e dentro da proposta editorial. E como tudo é feito em benefício do leitor, essa identidade pode (e deve) ser reformulada para não parar no tempo.

Ainda sobre características visuais, já que o apelo pela imagem vem crescendo constantemente, a autora também fala sobre o uso de fotografias nas revistas. Tanto para as que têm forte apelo jornalístico quanto para as que tratam de assuntos não tão factuais, a foto, a ilustração e a infografia são elementos que chamam a atenção do leitor, e isso deve ser usado a favor da publicação. A escolha e a posição das imagens, as legendas e os tratamentos de edição devem ser pensados com o mesmo cuidado e ética jornalísticos que os textos em geral.

A pauta da revista, segundo a autora, também é um ponto importante para o sucesso da publicação. Isso porque o perfil da revista, em si, obriga o jornalista a sempre repensar os assuntos de forma que, mesmo que ele seja noticiado com atraso em relação aos outros veículos, a abordagem será diferente, irá além, com outro enfoque. É preciso, ainda, manter uma linearidade em todas as edições, abordando temas pertinentes ao eixo editorial, por meio de uma linguagem e um design próprios e padronizados.

O texto usado pelas revistas também é diferente do texto de outros veículos. Isso porque, como são publicações com um caráter de análise, revisão, em um outro enfoque, o leitor também assume um papel em que não há aquela correria, aquele imediatismo que a TV traz, por exemplo. Scalzo (2011) diz que o texto deve ser mais humanizado, detalhado, que agrade o público. E, para isso, um bom jornalista de revista deve ser criativo e pensar, além de escrever de forma clara, direta e objetiva, na recepção do público ao conteúdo.

No capítulo oito, a autora fala que, mesmo não havendo uma verdade e uma neutralidade absolutas, o jornalista deve sempre prezar pela ética, não se deixando pautar pelas assessorias, não criando vínculos pessoais com fontes e parceiros profissionais, e também não usando a profissão em benefício próprio. É preciso, além de ser correto, provar ser correto. Isso para o leitor perceber o esforço da revista em ser imparcial, isenta, ética, profissional e transparente.

E a ética jornalística muitas vezes esbarra no uso de publicidade nas revistas. A autora diz que o interesse do jornalista é o leitor, enquanto o interesse do departamento comercial da publicação é com os anunciantes. E esses compromissos se cruzam em determinadas ocasiões, o que pode gerar um “cabo-de-guerra” entre os dois lados. “O maior patrimônio da revista é a sua credibilidade” (SCALZO, 2011, p. 84), afirma a autora. Mas essa credibilidade não existe sem uma boa saúde econômica. Ela cita a Sociedade Americana de Editores de Revistas, que defende a harmonia, mas a clara distinção entre o conteúdo editorial e a publicidade para que se mantenha essa credibilidade.

Scalzo (2011) termina, com um exemplo de revista que seguiu todos esses pontos e conseguiu ser um sucesso de público: a Capricho. Como redatora-chefe, a autora conta que a publicação teve de redefinir os projetos editorial e gráfico por várias vezes, de olho nas mudanças de mercado e de público.


Ela fala, também, sobre a busca da revista por uma identidade em relação ao público-alvo escolhido. Para isso, jornalistas e designers tiveram de mudar a forma como agiam pensavam no trabalho, justamente para entregar as leitor (nesse caso, leitoras) um material com que ele se identificasse e se sentisse atraído. Para finalizar, a autora admite que, nos dias de hoje, dificilmente a revista sobreviveria com o perfil de antes, mas é por isso que mudou junto com o público-alvo e continua fazendo sucesso no mercado.

Por: Gabriela Angélica 
        Nayra Andrade
        Thiago Martins

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