Por Paula Alves
Capote confia. Capote prova que histórias reais podem ser tão ou mais emocionantes que as ficcionais. Impulsionado e acompanhado por Harper Lee, amiga de infância, ele viaja até o local do crime. Leva seu jeito irreverente, de modos espontâneos e repletos de liberdade. Para comunicar-se com todos, demonstra autenticidade; não muda a voz considerada infantil, não subtrai as maneiras convencionadas feminina. Ganha a confiança do agente líder da investigação, Alvin Dewey. Ganha o temor e vai até a prisão encontrar-se com os autores do crime, Perry Smith e Dick Hickock. Ousado, dá vazão às suas ânsias, colhe material suficiente para, de modo magnífico, revolucionar narrativas já estabelecidas como únicas e passíveis de crédito.
Tal ensejo possibilitou a construção de A Sangue Frio, livro reportagem consagrado dentro do Jornalismo e da Literatura, sobretudo na hibridização dos dois gêneros – na prática de reportagem denominada Jornalismo Literário. Capote tinha prestígio quando se aventurou a investigar e escrever sobre o caso. Talvez por isso, permitiu-se ser envolvido pelos personagens – nota-se, por exemplo, sua manifestação emotiva quando conhece a história de infância de Perry Smith.
Para além das cinco indicações ao Oscar 2006, Capote coloca-nos no debate que se arrasta ao longo dos anos sobre a ética na condução do fazer jornalístico. Envolve questões como a relação que deve ser estabelecida com a fonte e os limites a serem respeitados. A questão, de modo sumário, é: “Vale tudo pela narrativa?.
Seis meses foram necessários para que o jornalista escrevesse o livro sobre o acontecimento. Os condenados foram executados, e o mundo das Letras não seria mais o mesmo. Na discussão que envolve a permanência do Jornalismo e sua consequente inovação, a ousadia de Capote é essencial aos profissionais da comunicação. Novas narrativas, novas formas de contar coisas reais. Reside aí o chão da posteridade.
Boa!
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