Por
Warley Carvalho
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Jornalistas são conhecidos
por sua imensa curiosidade pelas coisas, e muitos são aqueles que se beneficiam
quando algo do cotidiano ganha destaque nas páginas dos jornais. Mas não é todo
assunto que ganhar esse pódio. Transformar um fato em notícia depende de vários
fatores, entre eles, o inusitado e o trato que o escritor da ao assunto na hora
de redigir a matéria.
Foi um fato assim, simples,
que deu origem a obra literária, “À Sangue Frio” (1966), do escritor Truman
Capote, considerado um dos maiores romances do século XX e precursor do estilo
que viria a ser conhecido como livro-reportagem.
O livro relata a
história do brutal assassinato de uma família na cidade de Holcomb, localizada
no interior do estado do Kansas, nos Estados Unidos da América, da ideia
inicial do crime até a execução dos assassinos. Capote dedicou seis anos de sua
vida para criação da obra, empregando técnicas de reportagem, dados históricos
e técnicas de narrativas de ficção.
O livro foi adaptado para o
cinema e deu origem a dois filmes: “Capote” (Bennett Miller, 2005) e “Confidencial”
(Douglas McGrath, 2006). Ambos contam a mesma história, entretanto com propostas
diferentes.
O filme “Confidencial” (2006),
nosso foco aqui, traz uma abordagem de mergulho nas emoções de cada personagem.
Tudo começa com a curiosidade de Truman Capote sobre a nota curta, no New York
Times, sobre o assassinato de uma família que havia chocada toda uma cidade do
interior.
O inicio do filme discorre
lentamente, é necessário ter folego para os trinta minutos iniciais. Mas aguente
firme, o restante das uma hora e vinte oito minutos da trama promete (o filme
tem uma hora e cinquenta e oito minutos de duração).
O filme busca mostrar a
graduação e a crescente intensidade, tanto da história quanto do envolvimento dos
personagens. De forma a levar o espectador do aparente descaso com o cotidiano ao
entusiasmo com o suspense regado à romance. Seja pela vida de Capote em festas
e ao frequentar o “rai sossaith”, quanto pela rotina pacata dos moradores do interior.
A trama prende o espectador e quando já se está prestes a desistir do filme a surpresa
de adentrar a cena do crime e a mente dos assassinos é o ponto certo, como
convite e chave, para guiar a atenção nas investigações até o fim.
O filme gira em torno do
personagem excêntrico de Truman Capote (interpretado por Toby Jones).
Esse pequeno gigante mantém sobe controle, (as vezes não) as forças de fofocas sobre
sua relação com o presidiário Perry Smith (interpretado por Daniel Craig).
Sua forte ironia e seu apurado
sendo de humor são cartas usadas, com inteligência, ao lidar com os poderes da
justiça a fim de conseguir as concessões para as entrevistas. Material que seria
minuciosamente usado na redação de seu livro “À sangue frio”, livro este que
veio há ser um marco na escrita jornalística.
Marco que também veio
ocorrer na vida pessoal do escritor, pois as relações que deveriam ser levadas no
mais alto padrão do profissionalismo são fortemente abaladas pela proximidade
afetiva de Capote com Smith. Ponto que deixa no ar questionamentos como a
relação entrevistador/fonte.
O filme faz uso de elementos
comuns como: amor, solidão, medo, amizade, afeto... para humanizar, e em alguns
momentos nos colocar familiar ao assassino. Que perturbado, pode ter agido, em
sua ação animalesca, num ímpeto de compaixão a fim de minimizar sofrimentos. Pelo
olhar de Capote o homicida é digno de compaixão, pois poderia ser qualquer um
de nós.
A história do filme se adensa e começa a lançar luz sobre
a personalidade do entrevistador. Na medida em que o assassino é pressionado e
lavado a fazer confissões sobre o crime, é possível perceber que Truman também é
colocado, como diante de um confessionário, em confronto com suas intimas
lembranças.
Para ter mais do assassino,
terá também que confessar seus mais escondidos pecados. Essa troca entre os
atores é que torna os diálogos interessantes e que dá o tom envolvente ao
drama.
O fato lamentável é que com
um orçamento de estimados US$ 13 milhões o filme não tenha faturado nem 10%
deste valor. Ficando à sombra do premiado “Capote” que com um custo
em torno de US$ 7 milhões rendeu mais que o quádruplo deste valor, somente nas
bilheterias americanas.
Fica agora nas mãos do
leitor/espectador assistir e dizer qual é o melhor filme “Capote” ou “Confidencial”?