Thiago
Martins
O modo de vida divertido que levava Truman Capote,
interpretado por Toby Jones, no início do filme, nem de longe anunciava o quão intensa,
grande e dramática a trama iria se tornar. Foi lendo uma pequena nota de um
jornal que falava sobre uma chacina no Kansas, EUA, em 1959, que o escritor se
interessou pelo caso e decidiu desvendar a história – mas não sem convencer a
amiga de infância Nelle Harper Lee, vivida por Julia Roberts, a ir junto com
ele para o local do crime.
A medida em que Capote vai se aproximando da realidade do
crime, o filme se aproxima de realidade do personagem. Ele conhece os dois
autores dos assassinatos, Perry Smith (Daniel Craig) e Dick Hickock (Lee Pace),
e dá à eles e ao espectador a oportunidade de conhecê-lo também. Ao final, as
noites luxuosas e badaladas de Truman em meio à alta sociedade nova-iorquina e
nada se assemelham aos dias inteiros dedicados a entender o porquê de dois
homens terem assassinado uma família inteira de camponeses.
Da relação com a justiça americana, passando pelo contato
com os moradores da pequena cidade e chegando a uma espécie de romance entre
Capote e Smith, o filme nos faz pensar sobre várias questões que cerceiam o
jornalismo, como a apuração dos fatos, o faro jornalístico, a relação com a
fonte e com as autoridades e a forma de transformar um fato em notícia. No caso
do escritor, em livro, e de romance de não-ficção, como ele mesmo definiu.
A Sangue Frio, o livro original que reúne toda essa história,
foi e continua sendo uma publicação capital no que diz respeito ao jornalismo literário.
A obra-prima de Truman Capote foi, também, talvez o seu último grande
lançamento. Talvez pelo impacto causado pela morte de Perry Smith, condenado à
forca pelos assassinatos no Kansas. A certeza é que a partir daí, a forma de se
fazer e de se pensar em literatura mudou completamente.